Um diálogo cheio de nada...

Um diálogo cheio de nada...

Esta é a sensação de quem está a conversar com alguém que não está verdadeiramente ali, mas em vários sítios ao mesmo tempo.
Confesso que me faz alguma confusão e até uma certa irritabilidade… ninguém gosta de falar e sentir que do outro lado ou até mesmo à nossa frente denunciam ausência.
Talvez porque a cabeça está noutro lugar, talvez porque esteja demasiado ocupado com outras coisas, ou simplesmente ligou para saber de alguma coisa que queria e não tem tempo para ouvir aquilo que queria saber...
Parece contraditório não parece? Mas acontece...
E pergunto eu se quero falar para alguém e não tenho tempo para o ouvir, porque insisto em lhe ligar?
Ou porque digo vezes sem conta avança, como que querendo acelerar a conversa que por vezes não pode ser falada com pressa...
Tem de haver tempo.
Não será mais sensato ligar só quando sentirmos que estamos disponíveis, para ouvir ou saber o que queremos?
Ou até mesmo quando estamos frente a frente com alguém… Num diálogo acontece o mesmo.
Será que há necessidade de criar na outra pessoa o síndrome do fala rápido que o comboio avança?
Isto é das piores coisas que me podem fazer sentir, talvez porque estou sempre disponível para ouvir os outros, e fico triste, quando noto que do outro lado não há essa mesma disponibilidade.
Daí lhe chamar um diálogo cheio de nada…porque é um diálogo cheio de pressas.
Com uma pessoa sempre a correr… Às vezes penso que se gostasse de correr daria um bom corredor!!!
E a vida já passa a correr.
Não deveríamos de causar essa sensação em quem nos está a falar ou pronta para nos ouvir.
Desta forma chegamos à grande questão:
Quando vamos parar para pensar que quem está do outro lado pode ficar triste?
Porque a sensação que tem é que fala sozinha, e sozinha já está ela farta de falar.
Sozinha com os seus pensamentos;
Sozinha com os seus problemas;
Sozinha com as suas preocupações;
Sozinha com ela própria…
Será justo arranjar mais uma maneira para que essa pessoa sinta que do outro lado da linha, não está alguém, pelo menos presente (nem que seja no sentido de ouvir)?
Porque ela sente a ausência do outro lado...
Quando deveria de sentir que alguém lhe ligou porque queria falar.
Que queria saber como correu determinado assunto.
Mas na realidade o que transparece é que afinal, não devia de ter ligado sequer.
Porque lhe rouba a tranquilidade que a pressa do outro lado lhe passa e a deixa magoada.
Costumo dizer que o tempo é precioso.
E para mim faz cada vez mais sentido!!!
Porque a vida passa-nos a correr e nós não aproveitamos o privilégio de termos alguém que do outro lado nos atende, ou quando está a conversar é toda ouvidos.
Talvez só nos apercebamos disso, quando do outro lado, a outra pessoa comece a responder com a mesma ausência essa que lhe causa inquietude...
Temos de assentar antes de fazer algo, quer seja um telefonema, marcar um café com um amigo, sair com o marido ou namorado.
É preciso mostrar ao outro que está ali de corpo e alma, está inteira, para que do outro lado não haja aquele vazio que nos entristece.
Porque estamos ali por inteiro e merecemos o mesmo!!!
É preciso haver tempo sem barreiras, sem tempo, nem objeto, algo que nasça nesse instante e nos faça sentir que não estamos sozinhos...
Este patamar é o estado sublime da rendição e entrega a quem está sempre aqui para nos ouvir.
Não estará na hora de abrandar o ritmo?
Percebermos que se o comboio partir, virá um a seguir...
Porque insistimos em permanecer na correria, mas que um dia a vida nos mostrará que corremos tanto…
Para nada...
E agora que temos tempo já não temos ninguém para nos ouvir...
Que o telefone que do outro lado tinha sempre alguém, agora toca e nunca ninguém atende...Ou a vida já o levou...
Talvez aí entendamos que o estar, não é só ligar ou estar ao nosso lado porque às vezes parecemos estar invisíveis...
De repente é chegar à conclusão que tivemos o nosso tempo, e que esse já acabou...
Numa ultima análise relembro que somos improváveis, mas únicos da nossa própria história, salvamo-nos inúmeras vezes de diversas adversidades, dos monstros que nos assombram a vida, de noites escuras que não precisamos mais de escuridão mas de clareza.
E é preciso deixar que o sol volte aos nossos dias só assim aprendemos a resgatar o sol, a lua e as estrelas.
Para isso peço-te que só me ligues quando o teu tempo esteja na mesma proporção que o meu...
Porque afinal quando queremos e se conquista essa etapa, conquista-se também uma nova forma de ver o mundo.
Marlene.❤