Nós ainda estamos aqui...

Nós ainda estamos aqui..


Nós ainda estamos aqui...

Desde o primeiro dia que aqui estamos e que lutamos diariamente com todos os doentes que aqui chegam todos os dias, nós não esperávamos que as pessoas entrassem a uma velocidade assustadora.
Não estávamos preparados para viver isto...
Tudo o que nos vai no peito e na alma é pensar… Como vamos conseguir ultrapassar isto?
Quando nos esbarramos com este vírus não sabíamos nada ou quase nada da agressividade dele no corpo humano.
O que sabíamos era o que nos chegava de outros países em que lutavam desesperadamente para salvar vidas, e nós aqui a pensar.
Isto é o que nos espera?
Estaremos nós à altura para dar resposta a tudo isto?
As imagens que nos iam chegando dos outros países pairavam nos nossos pensamentos, era triste olhar para o número de mortes que cresciam de dia para dia.
Víamos os nosso colegas noutros países numa luta inglória, apesar de todos os esforços para salvar o maior número possível de pessoas.
Itália e Espanha estavam a viver numa exaustão sem fim, o barulho das sirenes não paravam de tocar, às portas dos hospitais estavam equipas de médicos e enfermeiros à espera de quem ia chegando, sem que pudessem controlar o que estava fora de controle.
Estas imagens deixaram o mundo envolto numa comoção tão grande de uma fragilidade sem fim, vinda daqueles que nós muitas das vezes achamos que podem tudo, que não se cansam, que para eles aquilo é uma coisa natural.
Não, não é!!!
Esta pessoas têm família que não veem há dias, outras vezes só conseguem ver o sorriso dos seus através do telemóvel e ouvir as vozes e o riso deles dá-lhes alento, para não esbarrarem com tudo e dizer não aguento.
Estes seres são verdadeiros heróis, sendo eles médicos, enfermeiros, auxiliares, cozinheiros que garantem que nada falte.
São eles que cheios de medo e frustração passam a calma para o doente que está diante de si, e que muitas vezes perguntam.
Dra (Dr), Sr. enfermeiro (Sra) nós vamos morrer, não vamos?
Como dizia uma médica estes dias é das perguntas mais difíceis de se ouvir...
Porque nós mesmos não sabemos… Porque tão depressa a pessoa está bem como de repente os pulmões e o coração sucumbem à doença, quando eles ali em frente chamam pelos seus nomes na tentativa que os oiçam e que voltem a reagir.
São corações despedaçados pela dor e frustração por terem deixado mais uma vida para trás.
É aí que se sentem falhados, mas nem isso o tempo lhes permite durante muito tempo… Porque os ventiladores da cama ao lado começam a dar sinal e têm de lutar por outra vida.
Sejamos mais agradecidos neste momento, de dor, de desespero onde a morte tem ganho muitas vezes sobre a vida.
Pensemos nestes seres extraordinários que choram, junto aos doentes, outros junto aos seus colegas que quando um cai o outro por muito cansado que esteja vai lá para o levantar e dar um abraço.
Sim porque para além da dor, da saudade, eles ainda se podem abraçar uns aos outros, ao menos essa recompensa ainda lhes é permitida porque mais parecem astronautas dos pés à cabeça.
Muitos separaram-se das famílias para os proteger e não vão a casa.
O único carinho que têm é o que lhes vai chegando de fora, fotografias, o verem os filhos a acenarem-lhe das janelas, que estão ali para matar um bocadinho da enorme saudade que lhes vai a todos no peito.
Eu não queria estar no vosso lugar, mas gostava de vos poder ajudar… Mas neste momento a única forma que tenho de vos fazer é passar-vos força através das palavras.
Mandar um abraço apertado cheio de força, fé e admiração.
Não vos mando coragem porque essa vocês têm demonstrado todos os dias através do vosso trabalho, de se manterem aí, juntos e unidos e determinados, privados dos vossos para salvar quem precisa.
Desejo que a solidão e a saudade não tome conta do vosso coração, para que a força vos faça continuar a lutar por todos nós.
Quanto a mim prometo ficar em casa para que vocês possam voltar rápido para o colo dos vossos, que deixaram para trás em prol de salvar outras vidas.
Bem hajam, e não se esqueçam, nós continuamos aqui!!!
Marlene.❤

PS: Quero também deixar um recado a todos aqueles que todos os dias reclamam contra quem fica em casa, não sejam injustos, ficamos em casa mas estamos a trabalhar a olhar pelos filhos, a fazer com que o vírus não se propague ainda mais, porque só assim conseguiremos sair deste flagelo mais facilmente.
Não vivemos sentados no sofá como muitos dizem, só porque não têm a sorte de poder fazer o mesmo, não critiquem porque nós não os criticamos porque têm de ir trabalhar, nós agradecemos por saírem todos os dias para que nada nos falte.
A esses o meu obrigada.
Quanto aos outros que reclamam, peçam só que a doença não vos infete para perceberem que cada um faz o que acha mais correto.
Fiquem bem e protejam-se, todos precisamos de trabalhar mas todos temos direito de decidir como nos vamos resguardar.
Pensem num todo e não apenas em vocês como sendo seres únicos.

Comentários

  1. ❤️❤️❤️🙏🙏🙏😘😘❤️

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    1. Sem eles não conseguia-mos controlar sozinhos esta pandemia.
      Beijinhos querida Laidinha com sabor ao nosso Portugal.
      Encontramo-nos aqui;
      O MEU, O TEU, O NOSSO LUGAR!!!

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  2. Respostas
    1. É nesta hora que temos de lhes dar coragem, para estas horas difíceis que estão a passar.
      Um beijinho querida Zeca.
      Encontramo-nos aqui;
      O MEU, O TEU, O NOSSO LUGAR!!!

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