O país das pessoas dos olhos tristes!!!

O país das pessoas tristes!!!


O país das pessoas dos olhos tristes!!!

Assim eramos conhecidos pelas pessoas que vinham ao nosso país, há muitos anos atrás num país chamado Portugal, vivia um povo infeliz e solitário tudo sobre o peso de uma enorme tristeza.
Pois eram pessoas que passavam e entreolhavam-se com os olhos tristes e apressados, como se estivessem cheios de pressa ou a fugir de alguém, metendo-se rapidamente dentro das suas casas.
E quando saíam à rua para trabalhar, encontrar num café ou no supermercado falavam baixinho, como se estivessem a contar um segredo terrível que tinham medo que fosse partilhado.
As pessoas que vinham de outros países não compreendiam este comportamento quando chegavam ao país das pessoas tristes.
Porque elas eram boas e afetuosas e só tinham motivos para serem felizes , mas se eram interpeladas quando lhes faziam uma pergunta as pessoas afastavam-se e não respondiam e mudavam de assunto pedindo desculpa de uma forma delicada.
Às vezes os que vinham de fora demoravam-se mais tempo e depressa faziam amigos porque era muito fácil fazer amigos no nosso país.
Mas esses amigos não podiam falar com eles à vontade e então levavam-nos para suas casas, e só quando tinham as janelas e as portas já trancadas e fechadas eles revelavam o segredo da sua tristeza.
Contaram-lhes que um dia aquele país tivera um dia um lindo e belo tesouro e que alguém o roubara...
E que era um tesouro tão grande e valioso que sem ele não podiam ser felizes.
Um tesouro?! Perguntavam os visitantes muito surpreendidos. Sim!!!
A liberdade!!!A liberdade?
Os visitantes não queriam acreditar porque nas suas terras, a liberdade era uma coisa comum, não havia privação de nada, toda a gente podia fazer o que quisesse desde que não fizessem mal a ninguém.
Aquilo era tão normal para eles, que as pessoas nem davam pela liberdade.
Eram livres do mesmo modo que respiravam, ninguém dá conta que respira, respira e pronto.
A liberdade é como o ar que respiramos diziam-lhes os seus novos amigos tristemente.
E como pode alguém viver sem liberdade? É impossível.
Então explicavam-lhes que a liberdade é como o ar que respiramos que se nos virmos privados dele sufocamos porque precisamos dele sem ele não podemos viver.
Pergunto eu como pode alguém viver sem liberdade? Como é possível?
Então as pessoas de olhos tristes explicavam-lhes que aqui no nosso país não se podia fazer o que queriam, e nem o que pensavam, nem fazer como eles partir e visitar outros países, conhecer outros povos, tinham de ficar fechadas no seu país como se ele fosse uma prisão.
E o pior de tudo é que nem sequer podiam contar esse segredo a ninguém… Porque corriam o perigo de serem presas ou até mortas.
Os visitantes diziam-lhes que o que passavam devia de ser uma enorme infelicidade, não admira que vocês estejam sempre tão tristes.
E as pessoas depois de irem espreitar à porta para ver se alguém os espiava, contavam-lhes como era a vida no país das pessoas que eles chamavam tristes.
Haviam policias por todos os lados, não policias bons, mas maus, não eram aqueles que prendiam os que roubavam, mas sim para espiar as pessoas para ver o que eles falavam entre si.
Existiam policias nas fronteiras para não as deixar sair, até haviam policias que abriam as suas cartas, para ler as suas conversas para ver o que escreviam, e pensavam nas suas conversas.
E se descobriam que elas diziam o que eles não quisessem, ou que pensassem o que eles queriam que elas pensassem que lhes batiam.
Os meninos das pessoas tristes não podiam ouvir as músicas, nem ver os filmes, ler os livros, as revistas de que gostavam, mas só as músicas, os filmes, os livros e revistas que não eram proibidos.
Nem podiam beber um sumo, uma coca cola porque também era proibido.
As raparigas e os rapazes não podiam conviver uns com os outros, e tinham de andar em escolas separadas e brincar em recreios separados por muros e grades.
As raparigas não podiam vestir calças, nem andar sem meias era também proibido.
E os rapazes já feitos homens eram mandados para as guerras para países longínquos e obrigados a matar gente que não conheciam e que nunca lhes tinham feito mal nenhum...
Muitos deles morriam lá, ou regressavam loucos.
Até que os amigos de fora os interrogaram porque não é que eles não votavam em governantes que também acabem com essas coisas más?
E que vos restituam a vossa liberdade o vosso tesouro, estranhavam os visitantes.
Porque eles lhes disseram que também não podiam votar.
Era espantoso!! Não podem votar? Então como escolhem os vossos governantes?
Nós não escolhemos os nossos governantes...
Então quem os escolhe? Perguntavam os visitantes.
Ao que eles respondiam;
Ninguém sabe...
Quem ouvia estas coisas ficava incrédulo e inquieto e os seus corações enchiam-se de tristeza e amargura.
O sol já não lhes parecia tão quente, nem o céu tão transparente e tão azul e quando eles voltavam
à rua olhavam eles também à volta amedrontados, pensando eles que também podiam estar a ser vigiados e temendo até que alguém pudesse ler os seus pensamentos e sair da sombra para os castigar por causa deles.
E de regresso ao seu país compreendiam então como a sua liberdade era afinal um tesouro muito valioso.
E a partir daí começavam a falar dela como um bem raro que a sua felicidade e a sua própria vida dependiam deles apenas, lembrando muitas vezes dos amigos que tinham deixado sós e infelizes no país das pessoas tristes.
Até que um dia chegou em que no país das pessoas tristes, as pessoas decidiram reconquistar o seu tesouro, os soldados reuniram-se nos seus quarteis, e pegaram nas suas armas para arrancar finalmente o tesouro das mãos dos ladrões e toda a gente saiu alvoraçadamente para a rua e acompanharam os soldados cantando e gritando, viva a liberdade, viva a liberdade, VIVA!!!!
Os corações de toda a população exultaram de alegria as janelas encheram-se de bandeiras e de cravos vermelhos, os soldados puseram cravos vermelhos nas espingardas e as mulheres, esqueceram-se dos jantares e das lides da casa e correram para a rua com os filhos ao colo e cravos vermelhos ao peito, chorando e rindo comovidas e confusas.
As pessoas que se tinham escondido e exilado noutros países e que fugiram regressaram, as portas das cadeias abriram-se os presos voltaram a casa, os jovens vieram da guerra felizes por estarem novamente rodeados dos amigos e da família.
E puderam abraçar os pais e os irmãos, e os meninos as meninas puderam pela primeira vez dar as mãos, falarem-se tocarem-se sem medo das acusações e dos castigos.
Todo o país se transformou numa grande festa ruidosa e transbordante, e as pessoas deixaram sair livremente do coração todas as palavras e todos os sentimentos acumulados durante todos os anos de infelicidade.
Era o dia 25 de Abril, porque foi naquele dia que o povo recuperou o tesouro da liberdade, esse dia passou a chamar-se sempre o dia da liberdade.
Tudo isto aconteceu há muito tempo eu e alguns de vocês ainda não tínhamos nascido, num país muito distante, esse país agora já não se chama o país das pessoas tristes, chama-se agora PORTUGAL!!!
E é o nosso o vosso país e o tesouro pertence-me a mim, a ti, a todos nós e somos nós que temos de cuidar dele, guardando-o muito bem no nosso coração para que ninguém nos roube outra vez.
Porque esta história não é uma história inventada é uma história verdadeira, aconteceu mesmo.
Perguntem aos vossos pais ou avós e aos vossos professores e eles iram contar-vos mais coisas sobre o país das pessoas tristes e sobre o dia da liberdade.
Hoje mais que nunca gritemos com toda a alegria viva a liberdade VIVA PORTUGALl!!!
Esta história foi escrita pelo escritor Manuel António Pina que escreveu " O Tesouro"  e recriada por
mim onde eu fiz alguns ajustes.
Para mim é sem dúvida uma forma de explicarem aos vossos filhos ou netos o que foi o 25 de Abril de uma maneira mais bonita e leve.
Que saibamos guardar bem esta liberdade para que nunca mais ninguém nos roube este tesouro tão importante, e que todos os anos possamos festejar e relembrar este dia que veio terminar com a ditadura no nosso país.
Marlene.❤

PS: O desenho de hoje que aprece como imagem no inicio do texto foi feito pela minha filha que o quis colar na porta da entrada da nossa casa, como forma de recriar e celebrar o 25 de Abril o dia da LIBERDADE!

Comentários

  1. Viva a liberdade, sempre é para sempre!!!!! 🇵🇹🌹

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    1. A liberdade começa onde acaba a minha para começar a tua é assim que diz a frase.
      Só existe liberdade quando respeitamos a dos outros…
      Um abracinho apertadinho:)
      Encontramo-nos aqui;
      O MEU, O TEU, O NOSSO LUGAR!!!

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  2. Respostas
    1. Que nunca nos roubem a liberdade que tanto nos custou alcançar…
      E se for para ficarmos privada dela que seja por uma boa causa, que neste momento é mantermo-nos em casa protegidos.
      Um beijinho querida Zeca e cuidem-se:)
      Encontramo-nos aqui;
      O MEU, O TEU, O NOSSO LUGAR!!!

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