Tu és aquilo em que te transformas e não aquilo que já viveste.

Tu és aquilo em que te transformas e não aquilo que já foste.


Tu és aquilo em que te transformas e não aquilo que já viveste.

Todos nós nas nossas vidas já passamos por momentos menos bons que nos marcam durante um longo tempo do nosso caminho.
Porque vivemos amarrados àquilo que vivemos e que deixou marcas profundas na nossa personalidade e na forma como passamos a olhar para ela.
Muitas das vezes somos nós os culpados daquilo que os outros estão a viver, porque as pessoas que vivem a história ficam com os olhos vendados, como se entrassem numa realidade que nas suas cabeças não existe, mas que quem as vive sabe que o que estão a ver não passa nada mais nada menos que violência psicológica.
Mas é difícil para quem vive esses momentos assumi-los, porque existe amor e acham que o amor pode ultrapassar tudo desde a violência física e psicológica.
E no fundo eles negam a verdade, e isso é um massacre aos olhos dos filhos, e então acham que no fundo o sofrimento é só deles, porque são eles que se agridem.
A violência destruiu a hipótese de sermos sempre uma família feliz.
É por isso que neste momento sinto a necessidade de partilhar esta história porque ela é a realidade de muitos filhos neste país.
Hoje sinto-me orgulhosa por conseguir contar esta história de vida real, porque as pessoas não têm de se sentir sós numa coisa que só por si já é tão solitária, da vergonha tanto de quem a sofre como de quem a pratica.
E esse é hoje o meu lema de vida partilhar para curar, se a minha partilha poder ajudar.
Para que possa ajudar qualquer pai ou mãe que neste momento possa estar a passar por esta situação e pôr também inconscientemente um filho na mesma situação e eu possa ajudar.
Então já valeu a pena.
A violência que eu vivi durante muitos anos chama-se violência psicologia, eu tinha medo do que via.
Cria-se uma ansiedade dentro de ti que não queres agir porque tens medo do resultado...
Muitas das vezes a minha mãe era vitima parecia querer ajuda, como no dia a seguir voltava para ela (a violência).
Demorou algum tempo, anos até que a minha mãe percebesse do amor que merecia receber o que era um desafio enorme porque ela nunca gostou tanto dela como gostava dele.
O que muda é tu ganhares a consciência e a dor é a forma de a despertar, perceberes que amar não implica sofrer.
O meu pai era violento na forma como tratava a minha mãe e ela parecia que adormecia perante o sofrimento ignorando por vezes aquilo que eu vivia ou via...
Um dia ainda eu muito pequena, lembro-me de ir com o meu pai e a minha mãe na rua, onde eles discutiam e eu carregava nos braços a minha boneca, o meu pai deu um estalo à minha mãe que ainda hoje ela o nega...
Como é que tu te transformas na dor que te magoou? É exatamente porque não permitiste senti-la.
Esta necessidade de agredir precisa de ser sustentada pelo agressor precisa de agredir mais e ser perdoado, para confundir isso com o amor, ama-me porque tens medo de mim, e a minha mãe perdoava, ou chamava perdoar a isso porque se submetia.
E quando tu vês o filho e não tens a tua criança interior curada, tu não consegues ver o filho que tens… Tu vês o filho que és.
E foi preciso eu entrar num processo de ajuda através de psicoterapia para me libertar dessa dor.
Porque eu vivi isto durante muito anos, esta foi a minha realidade durante muito tempo.
Eu acho que nenhum deles tinha a noção do que eu estava a viver ia interferir com a personalidade dos filhos.
Eu achava que a minha mãe tinha noção daquilo que nos estava a fazer viver, mas há muito aquele paradigma que aos olhos de um filho a sociedade faz muito o discurso de bipolarização, o agressor e a vitima como se fosse muito a vida a preto e branco.
Eu tentei perceber muitas vezes porque é que seguiam juntos?
Porque não se separavam?
E acabavam ali com o sofrimento deles, mas acima de tudo com o sofrimento dos filhos, por quem nós pais devemos sempre protege-los destas situações marcantes e dolorosas.
Mas eu costumo dizer que compreender não é desculpar.
Compreender ajuda a não nos tornarmos naquilo que tanto nos magoa ou magoa os outros.
De repente eu olhava para os dois como o agressor e como a vitima.
Depois há aquela dualidade que me fazia admirar mais um que outro.
Mas no fundo eu admirava mais a minha mãe, porque eu achava que a minha mãe tinha um valor tremendo e tem, mas eu confundia muitas vezes esse valor com o lugar de vitima com o qual ela já se confundia.
A minha mãe é muito mais do que a permissão do que se submeteu ao longo da vida, uma permissão que já vinha desde que se tinha casado ou talvez quem sabe antes...
A minha mãe é uma mulher bonita e de um enorme coração, assim como o meu pai também o é muitas vezes por isso que pode ser um tema a preto e branco que ele não é curado.
Confesso que cheguei muitas vezes a ter medo que um dia a minha realidade fosse a cópia daquilo que os meus pais eram.
Só quando vivi uma relação tóxica com uma pessoa que eu amei muito é que percebi que não queria repetir o padrão dos meus pais.
E um dia depois de me chatear com essa pessoa revi a minha mãe em mim, mas eu nunca sofri nenhuma agressão a pessoa é que tinha um passado, que não conseguia superar e eu não queria sofrer mais, já tinha uma dose elevada de sofrimento para a minha tenra idade.
Eu não queria ser aquele padrão que eu via nos meu pais.
Eu sentia que tinha o direito de ser feliz e não deixar que ninguém me molda-se ao que o outro queria.
Muitas vezes eu me revoltei, porque achei que eu era vulnerável porque durante a minha infância eu sempre fui submissa, mas eu não estava disposta a passar pelo mesmo cenário duas vezes.
Eu sou autónoma e sou eu que vou escolher o que quero ser, a minha felicidade não tinha de ser igual e foi chocante porque eu me revoltei muitas vezes, porque eu achava que a minha fragilidade vinha muito dos meus pais, e eu não podia deixar que a minha felicidade dependesse do que os outros queriam que eu fosse, porque quando se é vitima achasse sempre que tudo nos é devido.
Que a minha felicidade era sempre da responsabilidade de quem não se permitia essa felicidade, porque eu não me deixaria manipular.
Eu tinha de fazer uma limpeza daquela relação, porque eu parecia que estava na ponta do iceberg, é a ponta de uma escalada que parece que tu estás a subir, quando na realidade estás a descer.
Porque quanto maior é a violência mais eu estava a descer, e o amor funciona por compensações por isso não é amor.
Ele não vem de um lugar pleno nem da pessoa que se impõe nem da pessoa que se submete, e isto foi outra aprendizagem muito dura para mim, porque me transformou e me libertou.
Amar não é dizer ama-me porque tens medo de mim, mas também não é dizer ama-me porque eu te permito tudo.
Precisei de ganhar forças pedir ao meu anjo da guarda, que é a minha avó materna que me desse força para deixar aquela pessoa que eu tanto amava, mas se não se conseguia amar a ele próprio nunca me poderia amar.
Porque amar não é pedir ao outro que mude, ou deixar que o outro o veja afundar e continue ali sem nada fazer.
E amar é podermos ser felizes juntos e não destruirmos o outro, e seguirmos cada um o seu caminho.
Porque para mim amar é isto mesmo, amar é saber deixar ir , mesmo que se ame.
E mesmo que tu deixes ir uma pessoa em amor, o amor que tiver de ficar fica, porque eu não obrigo ninguém a moldar-se a mim.
Eu aceito as pessoas como elas são, e é por isso que eu acho que a aceitação dos meus pais como eles foram foi o que lhes permitiu tornar-se no que eles hoje são.
E se me perguntarem o que os meus pais hoje são?
São uma inspiração, são um exemplo porque tu não tens de ser durante a vida toda aquilo que foste.
Mudaram a forma de ser aceitando-se como são e que não desistiram de ficar juntos.
Que nunca é tarde para mudar e corrigir o que fizeram mal, e lembrarem-se que os filhos muitas das vezes são aquilo que veem nos pais.
Eles agora são felizes juntos, mas eu precisei de ajuda para os conseguir perdoar, porque sozinha não era capaz de entender o porquê de tudo o que passei...
E uma das coisas que eu agora vejo é que as pessoas usam muito a história dos outros para se distrair da sua, e deviam de usar mais a vida dos outros, para se inspirar para a sua.
Agora que eu dei a minha história a conhecer eu espero que isto seja um exemplo para muitos dos pais que estão a viver histórias como a minha, pensem nos filhos, e lembrem-se que passarmos a vida a fazer julgamentos porque só quando esses julgamentos acabaram é que eles se conseguiram encontrar um no outro e serem felizes.
Hoje quero dizer-vos que sei que vocês foram o melhor que souberam ser naquela altura, porque a vossa maturidade não vos permitiu mais...
Eu sei que eles hoje são os melhores pais do mundo, porque perceberam que tinham de mudar e que isso nos ia tornar a todos uma família feliz.

Nota: Se soubermos mudar, nós nunca seremos o que fomos mas sim o que fizermos com isso, há sempre hipótese de mudar até ao último suspiro, a vida é uma escola aprendeste a tua lição.
Foi a nossa história que me tornou mais forte, porque consegui resolver parte deste meu percurso muito graças à minha psicóloga, que me ensinou a perceber o que vos terá levado a esse caminho.
Agora só queria deixar um último apelo a todos os pais que vivem situações iguais à minha, lembrem-se dos vossos filhos e no impacto que a vossa "guerra deixará nas suas personalidades".
Se não o fizerem só vos posso dizer uma coisa;
NÃO LHES CHAMEM AMOR!!!
Um enorme beijinho aos meus pais, e espero que não se zanguem por eu contar a nossa história, porque ao conseguir escrevê-la é a forma que tenho de vos mostrar que já vos perdoei.
Amo-vos tal como são!!!
Marlene.❤


Comentários

  1. Respostas
    1. Só nos libertamos do que nos fez mal, quando conseguimos perdoar e às vezes o melhor é falar.
      Pedir ajuda e ajudar todos aqueles que vivem na mesma situação que nós já vivemos.
      Demorei muito a conseguir ultrapassar tudo isto, e só com a ajuda da minha querida psicóloga é que consegui deixar ir o que me fazia mal ao coração.
      Um beijinho enorme e encontramo-nos aqui no lugar de sempre;
      O MEU, O TEU, O NOSSO LUGAR!!!

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  2. Respostas
    1. Beijinho minha querida amiga!
      Obrigada por estar sempre aí:)
      Encontramo-nos no lugar de sempre;
      O MEU, O TEU, O NOSSO LUGAR!!!

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  3. Um beijinho querida Zeca!!!
    Obrigada por estar sempre aqui:)
    Encontramo-nos no lugar de sempre;
    O MEU, O TEU, O NOSSO LUGAR!!!

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